sábado, 21 de agosto de 2021

Moises Andrade e a Intentona Comunista de 1935

 Fonte: Jornal "A Ordem", edição de 24/02/1948.


MOISES ANDRADE era filho de filho de Joaquim Pequeno de Moraes e Francisca Eugenio de Andrade, neto, pela parte materna, do Coronel Manoel Eugenio Pereira de Andrade e Josefa Maria da Conceição; nasceu em Taipu aos 01/10/1906 e foi registrado com o nome de Moyses Pequeno de Moraes. No entanto, no registro de casamento está ratificado o nome para Moises Eugênio de Andrade; eram seus irmãos: Maria Eugenia, Alfredo, Maria Anita, Maria Florinda, Alahide, Carmelita, Manoel e Horlando; Moises Andrade consta na lista da professora Helena Botelho, primeira professora, da turma masculina, do Grupo Escolar Joaquim Nabuco.

Moises Andrade casou-se em Taipu, no civil aos 12/03/1932, no religioso, aos 17/04/1937, com sua prima Carmélia Paiva de Moraes, filha de Manoel Eugenio de Andrade e Maria Amélia de Paiva; do casamento nasceram: Cornélio, Maria da Paz e Tisian.

Moises Andrade foi um dos maiores ativistas sócio cultural de Taipu à sua época; era desportista, carnavalesco, poeta e compositor; segundo as anotações do diário da Professora Francisca Avelino, foi Maestro da Banda de Música Municipal e responsável pelo Taipu Futebol Clube, time que antecedeu o Estrela do Norte e o Bonsucesso; deixou uma grande contribuição para a cultura de Taipu, poderia ter deixando muito mais, não fosse a sua partida prematura.

Moises Andrade era investigador de polícia; o jornal “A Ordem, edição de 24/02/1948, sob o título “Roubou o comerciante”, divulgou a seguinte matéria:

Ontem à noite verificou-se um furto de dinheiro na localidade de Itapassaroca, município de Ceará-Mirim, no qual foi lesado o comerciante Luiz Teixeira, proprietário de um “barracão” naquela localidade.

Comunicado o ocorrido ao investigador Moises Eugenio de Andrade que passava por aquele povoado este deu inicio as suas investigações tendo encontrado o larápio entre os passageiros de um caminhão que procedia de Taipu.

O “amigo do alheio”, de nome Jose Lopes da Silva e que é natural de Mossoró, foi conduzido a esta capital, confessado ser o autor do furto que orça Cr$ 2.500,00.

 

Considerando a baixa probabilidade de que Moises estivesse, por acaso, possando na Itapassaroca logo após o furto, a dedução lógica é que, pelo prestígio no seu trabalho de investigação, era requisitado por outras praças.

Na Intentona Comunista, movimento organizado pelo Partido Comunista com intenção de tirar Getúlio Vargas do poder, Natal chegou a ficar no domínio dos revolucionários, que marcharam para o interior do Estado e, em Taipu, depuseram por um dia o prefeito Rosendo Leite; logo o movimento foi derrotado e o pessoal da Guarda Municipal de Natal, simpatizantes dos revolucionários, fugiram para o interior do Estado.

Luiz Raimundo Guedes era um dos membros da Guarda Municipal de Natal que, vendo o movimento derrotado, fugiu para Taipu, à noite, pela linha do trem. Luiz era recém casado com Maria Cecília de Andrade, a mais velha dos filhos sobreviventes de Antonino Eugenio de Andrade e Cecília Maria de Andrade; Antonino era vizinho, amigo e compadre de Adão Marcelo da Rocha que, de pronto, não deixou desprotegido o genro de Antônio, “guardou-o” em uma de suas propriedades.

Moises Andrade, o investigador, passou a procurar, na tentativa de levar à prisão, tais foragidos, sendo Luiz Raimundo Guedes sua caça preferida; dentre as técnicas de investigação de Moises havia a visita, aparentemente despretensiosa, que fazia durante o dia às casas que supunha ser esconderijo; tinham as visitas dois objetivos básicos: identificar a quantidade de moradores da referida casa e fazer “amizade” com os cachorros da família, para que, à noite, os vigilantes não estranhassem sua presença; voltava Moises no escuro da noite quando o único barulho eram os irritantes cantos dos grilos e, de ouvido colado às portas e janelas, rondava a casa na tentativa de descobrir se ali ressonava mais almas do que as moradoras habituais da residência.

As caçadas de Moises viraram obsessão, eram implacáveis; Adão Marcelo trocava o seu “visitante” de lugar para despistar o caçador, até que, o cerco se fechando, Luiz Raimundo foi levado para a cidade de Nova Cruz e de lá, junto com a esposa, foi levado para a cidade de Recife, em Pernambuco.

Não sei se Moises levou à cadeia algum dos seus procurados, mas o inusitado aconteceu: certo dia Maises, que havia tomado uns aperitivos a mais, saiu à rua gritando vivas ao Comunismo. Foi preso por subversão. Fora somente efeito do álcool, logo foi solto, sua prisão não lhe rendeu maiores consequências do que a ressaca moral.

Na Década de 1990 visitei Luiz Raimundo e Maria Cecilia, essa minha tia pela parte paterna, moravam no bairro do Alto José Bonifácio, em Recife. Ali desenvolveram-se seus descendentes e casal ficou até o fim de suas vidas, faleceram com idades já bem avançadas. Luiz Raimundo, a quem o chamava de tio, era seguidor de Miguel Arraes e adorava contar suas experiências políticas.

Moises Andrade, Infelizmente, teve sua vida ceifada prematuramente, aos 49 anos de idade, no trágico acidente, entre as cidades de Mossoró e Assú, com o tombamento do caminhão de romeiros de Taipu que retornava da cidade de Canindé, no Ceará, aos 14/12/1955.

Arnaldo Eugenio de Andrade - 21/08/2021

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