terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Magnus Kelly, despediu-se da vida

 

Magnus Kelly em momentos - Fotos reprodução

 

MAGNUS KELLY DE MIRANDA ROCHA, filho de Marino Alves da Rocha e de Dona Maria Inês Rocha de Miranda, neto paterno de Adão Marcelo da Rocha e de Dona Luíza Querubina da Nascimento e, pela parte materna, de João Miranda Filho e de Dona Suzana Leite de Miranda, nasceu em Taipu, na casa que atualmente pertence à Senhora Darci Balbino, a 1º de outubro de 1945.

Magnus Kelly, que era advogado, participou do movimento político “Cruzada da Esperança”, liderando pelo ex Governador Aluízio Alves; foi deputado estadual por três legislaturas, conquistando os mandatos em 1966, 1970 e 1974, sendo eleito, para seu primeiro mandato, com apenas 21 anos de idade.

Na sua bandeira de luta por Taipu, destaca-se as reivindicações pela aquisição de um Ginásio (Escola de Curso Ginasial, à época) para Taipu, a exemplo da matéria abaixo, publicado na imprensa da época, com o título – Magnus pede ginásio para Taipú:

Mostrando o sacrifício que tem que ser vencido diariamente por mais de uma centena de jovens estudantes de Taipú, o Deputado Magnus Kelly, ao justificar o requerimento que apresentou, disse acreditar que no Governo Tarcísio Maia que tem como Secretário da Educação o prof. João Faustino, a questão será solucionada satisfatoriamente. É que a cidade de Taipú espera um ginásio para atender ao interesse do estudo de sua mocidade, lembrando que embora mais de 100 alunos diariamente se dirijam a escolas em Ceará Mirim, igual quantidade de jovens deixa de fazer o mesmo porque não tem condições financeiras para enfrentar além das despesas com fardamento e livros, a de transporte.

Lembrou que a comunidade de Taipú luta a alguns anos para obter este benefício, tendo ele mesmo o orador requerido em seguidos anos esta providência do Governo Estadual através de apelos repetidos. Está certo de que o novo estilo administrativo implantado pelo Governador Tarcísio Maia porá fim a esta situação vexatória, mostrando ainda que o Deputado Federal Pedro Lucena já fez constar no orçamento deste ano verba de 50 mil cruzeiros para auxiliar a Prefeitura de Taipú na construção e instalação de um ginásio, gesto que terá este ano solidariedade dos componentes da bancada federal do MDB e do Senador Agenor Maria, ajudando ao movimento daquele município neste mesmo sentido. (fonte: Jornal Diário de Natal, edição nº 09778, página 5, de 30 de abril de 1975).

De Magnus Kelly lembro de suas campanhas políticas, dos discursos inflamados, dos deslocamentos à palhaça para espera sua caravana, que já chegava em Taipu na sua kombi palanque. Lembro do seu carro, estacionado no velho casarão da sua avó Suzana, que atualmente pertence Afrânio Miranda Filho, cheio de presentes para o dia das crianças, e a algazarra que as crianças, dentre elas, eu, faziam pela aquela felicidade ímpar.

Magnus Kelly despediu-se da vida aos 17 de dezembro de 2022, aos 77 anos, e foi sepultado no Cemitério Morada da Paz.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Maria do Livramento Miranda Clementino, o brilho de uma taipuense

 


Maria do Livramento Miranda Clementino

 

 


Maria do Livramento Miranda Clementino


Por Zoraide Souza Pessoa (UFRN)

Maria do Livramento Miranda Clementino, é professora titular da UFRN, nordestina, que nasceu em 01 de janeiro de 1950, em Taipu, pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte. Filha única, do comerciante Lauro Miranda e da dona de casa Maria de Lourdes Miranda, viveu sua infância entre as cidades de Taipu e Ceará-Mirim, onde estudou os anos iniciais do ensino fundamental, no Grupo Escolar Joaquim Nabuco em Taipu, e concluiu os anos finais, no colégio Santa Águeda em Ceará-Mirim, do qual foi interna entre 1963-1966. Sua juventude passou na capital, Natal, cursando entre 1967-1969, o ensino médio, no Atheneu, tradicional colégio público da cidade.

Contrariando a vontade dos pais, que almejavam que se formasse em medicina, engenharia ou direito, consideradas “carreiras de futuro” segundo a percepção familiar, optou por fazer sua primeira graduação em Sociologia e Política, na Fundação José Augusto, em Natal entre 1970 e 1973. Também cursa de 1971 a 1975 Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na qual também se graduaria em Ciências Sociais entre 1976 e 1977.

Mas, a realização no Direito foi amplamente conquistada pela família, na terceira geração dos Miranda, agora Miranda Clementino, fruto do seu casamento com Francisco das Chagas Clementino, jovem potiguar farmacêutico bioquímico que arrematou seu coração no ano de 1974 em Salvador, quando cursava mestrado em química na UFBA. Da união, celebrada em 1976, nasceram seus três filhos, todos bacharéis em Direito.

Livramento, mulher, filha, mãe, esposa, avó, socióloga, economista, professora e pesquisadora vão delineando sua jornada profissional e científica que se inicia quando exerce a função de socióloga, como celetista, no serviço de pesquisa e estatística da Divisão de Orientação Social no Serviço Social do Comércio (SESC), em Natal, de 1971 a 1975. Sua carreira acadêmica se iniciaria em 1979, na UFRN. Contudo, ainda experimentaria atuar como gestora pública, ao exercer o cargo de Secretária Municipal de Administração Geral e Planejamento da prefeitura de Natal de 1993 a 1994.

Foi na UFRN, ao longo de mais de quatro décadas, que se moldaria como pesquisadora, polindo as marcas do regional, do urbano, das cidades, das metrópoles e das políticas públicas como polos centrais de sua trajetória acadêmica científica. Apresenta uma identidade ambivalente entre a sociologia e a economia como ela mesma se descreve, mas se podemos pensar em definições, trafega com maestria na interdisciplinaridade. No início de sua carreira acadêmica na década de 1980, vai forjando sua identidade no estudo do regional, temática que vai marcar grande parte de sua produção acadêmica. É neste período que cursa o mestrado, nas Ciências Sociais, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unicamp (1982-1985) pesquisando as relações capital trabalho na exploração do algodão, atividade agrícola rural tradicional, e de base central para a dinâmica regional do Nordeste e do Rio Grande do Norte, até o seu declínio nos anos 1980. É nos estudos rurais e regionais, que vai talhar sua formação, sob a influência da profa. Maria de Nazareth Baudel Wanderley, sua orientadora e uma das principais estudiosas das ruralidades brasileiras. Deste período, nasce a obra que ela considera uma das mais marcantes: O Maquinista de Algodão e o Capital Comercial, de 1987.

É no doutorado cursado de forma sequencial no Instituto de Economia da Unicamp (1985 – 1990), no qual conciliava junto com o parceiro de vida, Chagas, que também cursava doutorado no Instituto de Química, que marcaria de vez sua formação na economia regional, sob a orientação do Prof. Wilson Cano, que se tornaria uma grande referência intelectual, de pesquisa e pessoal. Sob a influência de Wilson Cano, sua tese analisa as transformações capitalistas e suas contradições como eixo analítico de sua abordagem sobre o desenvolvimento regional no contexto do capitalismo periférico, aplicado ao caso do processo de urbanização do Rio Grande do Norte, marcada pela expansão do setor terciário como influxo das contradições das relações capital trabalho e que vai forjar a sua urbanização e dos seus principais centros regionais que compõem o livro: Economia e Urbanização: o Rio Grande do Norte nos Anos 70, publicado em 1995.

Na década de 1990, faz um Pós-Doutorado na Université Lumière, Lion2, França (1990-1991) e, ao retornar, inicia sua atuação junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, e juntamente com colegas das Ciências Sociais da UFRN e outros pesquisadores do Nordeste que participavam do Grupo Temático de Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) se depara com o não lugar da pesquisa regional. Para romper e ampliar o acesso aos editais de financiamento de pesquisas, utiliza como estratégia a atuação e a articulação da pesquisa em rede, que vai ser uma marca de sua trajetória, permitindo desenvolver projetos de pesquisa tendo como foco o regional e, no Nordeste, em parceria com pesquisadores do Nordeste e de outras regiões do país.

O viés da pesquisa em rede, se fortalece ao longo da primeira década do século XXI ao ingressar na Rede Observatório das Metrópoles, coordenada por Luiz César Ribeiro de Queiroz, e adentrando de vez na pesquisa sobre as cidades e a metropolização no Brasil, e na análise das desigualdades e estruturas sociais das metrópoles.

Dessa inserção, passa a coordenar em 2003, o Núcleo Natal do Observatório das Metrópoles, conduzindo uma ampla e interdisciplinar equipe de pesquisadores, que tem na metropolização de Natal o foco de estudo e pesquisas.

Em paralelo, entre os anos de 1990 e 2000, vai também consolidando em sua agenda científica o estudo das políticas públicas, que se torna um objeto revigorante frente ao processo de redemocratização e da efetivação dos direitos do cidadão, moldados pela Constituição de 1988, redefinindo o papel dos governos e da gestão pública, impondo novas perspectivas, competências e a emergência de problemáticas. Desse contexto, juntamente com outros pesquisadores, cria o grupo de pesquisa Estado e Políticas Públicas (EPP), que vai moldar a formação do Núcleo Avançado de Políticas Públicas (NAPP) no início dos anos 2000, possibilitando idealizar a criação do Departamento de Políticas Públicas em 2008, do qual passa a compor o corpo docente, depois de quase 30 anos no Departamento de Ciências Sociais. Esse momento, destaca-se em sua trajetória acadêmica ao liderar a criação do curso de Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, ambos em 2009, que resultou na concretização do Instituto de Políticas Públicas em 2022.

É esta trajetória interdisciplinar que vai marcar sua contribuição nas ciências sociais, tendo o urbano, o regional e as políticas públicas como foco de suas análises sociológicas e econômicas, espelhando ainda a inovação na sua pesquisa realizada em rede e de forma colaborativa.

Inspira dezenas de alunos e orientados como eu que continua formando, mas também para as gerações futuras, da quarta geração dos Miranda Clementino, seus cincos netos, para quem deixa como lição, que o mundo muda muito rápido, e precisa mudar e não pode mudar de qualquer jeito, mas de forma justa e com direitos à diversidade dos indivíduos e das formas de vida com qualidade e equilíbrio, mas com atenção crítica e com ação transformativa frente à sedução que o novo oferece.

Sugestões de obras da autora:

CLEMENTINO, M. L. M.. O Maquinista de Algodão e o Capital Comercial. Natal: Universitária UFRN, 1987. 272p (a)
CLEMENTINO, M. L. M.. Economia e Urbanização: o Rio Grande do Norte nos Anos 70. Natal: UFRN/CCHLA, 1995. 371p (b)
CLEMENTINO, M. L. M.; PESSOA, Zoraide Souza (Org.) . Natal: uma metrópole em formação. 1. ed. São Paulo – SP: EDUC – Editora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009. v. 500. 351p. (c )
CLEMENTINO, M. L. M.; FERREIRA, Angela Lucia (Org.) . Natal, transformações na ordem urbana. 2. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015. 429p. (d)
CLEMENTINO, M. L. M.. Duas Décadas da Região metropolitana de Natal. 1. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2019. v. 1. 310p. (e)
RIBEIRO, M. G. (Org.) ; CLEMENTINO, M. L. M. (Org.) . Economia metropolitana e desenvolvimento regional: do experimento desenvolvimentista à inflexão ultraliberal. 1. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2020. v. 1. 722p. (f)
CLEMENTINO, M. L. M.. Economia regional e a produção do urbano crítico: lições de Wilson Cano. Economia e Sociedade (UNICAMP), v. 30, p. 739-760, 2021.

 

 Fonte:

https://sbsociologia.com.br/project/maria-do-livramento-miranda-clementino/

 

O tanque do Poço do Antônio

                                                           Tanque do Poço do Antônio, crédito Emerson Oliveira                              ...