Fonte: o autor, desenho a grafite
SINHÔ SALDANHA nasceu no Sítio Bom Nome, na cidade de Catolé do Rocha, Estado da Paraíba, aos 18/02/1918, foi registrado com o nome de Antônio Saldanha da Silva, filho de Gervásio Saldanha da Silva e de Ana Alves Saldanha; seus irmãos eram Adevaldo, Isaura, Jonas e José, nascidos na Paraíba, e Egídia e Iornilda, nascidos em Taipu.
Gervásio fora acusado de acobertar o “roubo” da filha de Quinca Saldanha, que era cangaceiro e parente seu, e por tal, jurado de morte; fora aconselhado por amigos para mudar-se de lugar; resistiu, mas com tantas insistências, seguiu o conselho e, com os baús ao lombo de jumentos, transferiu-se com a família para Taipu.
Gervásio estabeleceu-se com a família em Taipu no ano de 1925; vida nova, nome novo, adotou Cícero Saldanha, as letras “C e S”, em relevo, na fachada da casa que pertence hoje ao neto Joca Saldanha; montou uma pequena fábrica de selas que abastecia toda a região, conforme escreveu a Professora Francisca Avelino em seu diário pessoal.
Já em Taipu, a família viveu um drama familiar, José Saldanha, irmão e parceiro de Sinhô nas serestas, namorou um jovem bem mais moça que ele; a família dela não aceitou o romance; desiludido, acordou sedo, foi à fábrica de selas do pai e ingeriu um germicida usado no tratamento dos couros, voltou para casa, deitou a cabeça colo da mãe e avisou do acontecido; a família, em desespero, buscou socorros, era tarde, José Saldanha partiu.
Sinhô Saldanha casou-se em Taipu, aos 08/11/1948, com Alzira Ribeiro Saldanha, que também era natural de Catolé do Rocha, no Estado da Paraíba, nascida aos 19/08/1918, filha de Almino Alves Ribeiro e Joaquina Araújo Ribeiro, ainda sua parenta; foram os pais de cinco filhos: Alzenira, Antônio Filho (Bibi), Américo José, Alzira, e Adalberto; Américo José faleceu bebê, em consequência do susto provocado pela queda de uma taboca de foguete sobre ele e sua mãe; viúvo de Alzira Sinhô casou-se em segundas núpcias com Maria Cícera Saldanha e foram os pais de: Ana Cláudia, Alexandre César, Américo, Elane e Angélica Vitúria.
Sinhô Saldanha e Dona Alzira eram muito espirituosos, acolheram na sua casa, por muito tempo, Tinho e Neguinho do Circo; há outros exemplos de solidariedade do casal: na cheia de 1964, quando a ponte rodoviária sobre o Rio Ceará Mirim caiu, e as pessoas, retornando de Natal, ficaram impossibilitadas de prosseguir viagem, Dona Alzira desacomodou os filhos para acomodar mulheres que não conseguiriam chegar às suas casas naquele dia.
Sinhô, por profissão, seguiu o pai, trabalhava de sapateiro, depois tornou-se Servidor Público, fora nomeado Escrivão de Polícia, porém nunca largou a música, uma de suas paixões da vida, habilidade que descobriu ainda muito jovem; aos dose anos de idade, tocando clarinete, ingressou na Banda de Música de Taipu, regida pelo Maestro Luiz Alves Pereira; na Banda de Música teve como colega Sebastião Barros, que viria a torna-se músico de projeção internacional, com o nome artístico de K-Ximbinho.
O dom musical de Sinhô é herança materna, sua mãe tocava concertina; tais dotes não foram herdados apenas pelos filhos Bibi e Alzira, o primeiro poeta e compositor, essa dona de uma voz encantadora, os sobrinhos Zeninha e Mequinho Saldanha também seguiram seus passos: Zeninha desde muito nova deslanchavam no acordeom e no violão, Mequinho encantou a sua geração com voz e violão; o dote musical da família Saldanha já chegou nos sobrinhos netos de Sinhô, os filhos de Mequinho, Dandão e Alan, continuam, orgulhosamente, mantendo a tradição musical familiar.
Sinhô também era astucioso: certo dia, na sua banca de trabalho, não conseguia se concentrar frente a algazarra, típica de adolescentes, dos amigos de Bibi que tinham como ponto de encontro a casa de Sinhô; de repente, como quem não tem outra intenção, perguntou se os jovens não estavam sabendo do Circo que estava para chegar na cidade; curiosos, em voz uníssima, responderam que não; então Sinhô contou-lhes que o Circo chegaria depois, mais os animais estavam chegando pelo trem, que devia chegar na cidade a pouco; correram todos para a estação, o trem passou sem trazer os animais, mas, pelo menos naquele dia, os jovens se entreteriam em outra “praça”.
Do Mestre Sinhô Saldanha guardo com muito carinho uns versos que ele me dedicou, datado de 28/07/1985:
“Você
Predestinado por Deus para ser bom
Ser leal, ser amigo verdadeiro
É dom de Deus esses tão belos predicados
Caminhos a passos firmes em seu roteiro
Invejável é seu belo proceder
Nesse mundo de tantas incertezas
Em que o avanço louco predomina
Clamando aos céus a própria natureza
Mas resoluto com o pensamento pleno
Pronto estar a servir o irmão carente
Que em horas de alegria ou de pranto
Para ajuda-los estar sempre presente
Louvo o teu exemplo tão sublime
E espero dialogar sempre contigo
Para assim poder cada vez mais
Acreditar que és verdadeiro amigo”
Sinhô Saldanha fechou os olhos para a vida aos 21/08/1992, foi se juntar aos seus, foi se juntar aos nossos; deixou um grande legado, uma grande contribuição para nossa cultura; havia recebido o título de cidadão taipuense aos 30/11/1992 e, em uma justa homenagem, e para orgulho taipuense, a Banda de Música Municipal recebeu o nome de “Compositor Antônio Saldanha”.
Arnaldo Eugenio, 13/08/2021
Bela história 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirMuito interessante esse resgate cultural; sabemos que a cultura não vai mais existir; quando o homem também sumir.
ResponderExcluirVerdade Nadson!
ExcluirQue legal!
ResponderExcluirLinda história do meu pai!
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