JOÃO MARIA foi o mais famoso vaqueiro de nossa região, embora ele desconhecesse a sua própria fama. Chegou à região no final do século XIX, vindo da Serra das Almas, em Crateús, no Ceará, fugindo da seca que assolou aqueles tempos, trazendo com ele os filhos Venceslau, Maria. Francisco e José Maria.
Quando uma cabeça (um boi ou uma vaca) se separava do rebanho e se embrenhava caatinga a dentro, já dada por perdida, recorria-se ao famoso Vaqueiro, que quase sempre conseguia a façanha de trazer o animal de volta para o pasto do seu dono. Atribuía-se às façanhas do humilde Vaqueiro, a força de suas orações.
Certa vez o Vaqueiro João Maria foi para mais uma missão, vindo das bandas do Inhandu, embrenhando em matas fechadas e hostis, chegou às proximidades do Riacho do Caratã, região situada entre as comunidades de Primeira lagoa, em Ceará Mirim, e da Barbará, em Taipu, um reduto de animais selvagens à época, hoje uma área de preservação ambiental, sob a guarda do IDEMA. Ali, exausto, com sede e fome, apeou-se do cavalo para um descanso, quando foi atacado por uma onça, que ceifou a sua vida.
Alcides Pinheiro de Souza casou-se com Joana Darc de Oliveira, no matrimônio os nubentes foram dispensados do parentesco por consanguinidade de 3º grau atingido ao 2º grau lateral, conforme o código canônico, ou seja: José Fernandes de Oliveira e Maria Joaquina da Conceição eram bisavós do nubente e avós da nubente. Alcides Pinheiro foi ser gerente do fazendeiro Vital Correia, sediado no lugar denominado Cavalcante, situado entre Ceará Mirim e Taipu, ao sul da atual BR-406. Alcides passou a conviver com o drama da caça a animal perdido. À sua esposa Darquinha cabia as promessas a João Maria. O sucesso nas caçadas de Alcides e sua equipe era sempre atribuído a interseção do Vaqueiro.
Os Irmãos Pinheiros (ou a Turma do Para), como são conhecidos os filhos de Alcides e Darquinha, mantiveram a devoção que os pais tinham ao Vaqueiro e, anualmente, sempre no mês de janeiro, vinham ao lugar, aonde já havia uma Cruz afixada, para suas devoções. A partir do ano de 2001, o Padre Francisco de Assis de Melo Barbosa, à época da Paróquia de Ceará Mirim, apoiado pelos Irmãos Pinheiro, passou a celebrar, aos dias de quatro de janeiro, a Missa ao Vaqueiro João Maria. A missão tornou-se tradição.
Aos 05 de janeiro de 2015, em Taipu, em plena Festa de Reis, os Irmãs Pinheiros propuseram que elaborássemos um projeto de um memorial ao Vaqueiro João Maria. Depois de algumas discussões, estava consolidado o conceito de que o projeto tivesse forma de chapéu de coro. Assim foi projetado, e os Irmãos Pinheiro ergueram o Memorial. No final do mesmo ano, no local onde faleceu o Vaqueiro, foi instado o Memorial ao Vaqueiro João Maria, o qual foi inaugurado aos 04 de janeiro de 2016. Quando na instalação do memorial, as comunidades locais já tinham construído uma mureta no entorna da Cruz.
Em janeiro de 2000 fui assistir, pela primeira vez, a Missa do Vaqueiro. Fiquei surpreso com a quantidade de gente, vindo das comunidades dos arredores, de cidades vizinhas e, principalmente, de Natal. Havia muitos carros, ônibus, e cavalheiros montados em seus belíssimos cavalos. Houve o momento de cânticos e orações, que precederam à missa, a missa propriamente dita, que ao seu término abriu espaço para várias pessoas testemunhar graças alcançadas, a bênção dos animais e, por fim, uma equipe de teatro apresentou uma encenação da morte do Vaqueiro, tudo de forma solene e muito bem organizada, presidida pelo Cônego José Mário de Medeiros.
O Memorial do Vaqueiro. embora ainda seja desconhecido por muitos da região, recebe visitas de devotos e curiosos o ano inteiro: grupo de ciclistas, de vaqueiros, cavalgadas, pessoas a carro e a pé. Como já dito, o Memorial fica localizado próximo ao Riacho Caratã, que cruza o limite entre os municípios de Ceará Mirim e Taipu.
Em todas as referências em que li ou ouvi, sobre o Memorial, apontam que este se localiza no município de Ceará Mirim, no entanto, em conversa recente com o vereador de Taipu, Dedé Farias, o edil disse-me não ter dúvidas de que o Memorial está dentro dos limites do município de Taipu.
Então que evidenciemos.
A divisa de Taipu e Ceará-Mirim sinalizada nas placas da BR 406 estão erradas pois o que se sabe é bem mais embaixo perto do Espírito Santo mais ou menos naquela baixada e o Riacho Caratã eu sempre soube que é Taipu.
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