quarta-feira, 16 de março de 2022

Cemitério da Boa Vista, registro de um sepultamento, 15/06/1889

Cartório Notarial de Ceará Mirim / RN, livro de registros de óbitos do ano de 1889 a 1890, pág. 69v e 70, termo 135. Acesso via https://wwwfamilysearch.org/search/catalog

 

Transcrição do registro de óbito:

Número cento e trinta e cinco - Aos dezessete do mês de setembro de mil oitocentos e oitenta e nove, nesta cidade de Ceará Mirim, Distrito de Paz da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, município de Ceará Mirim, Província do Rio Grande do Norte, em meu Cartório compareceu Francisco Freire da Silva, declarou que no lugar Pitombeira deste Termo, faleceu sua mãe, digo as oito horas do dia quinze de junho deste corrente ano, faleceu sua mãe de nome Silvana Maria da Apresentação, que pertencia a esta mesma Paróquia; que tinha sessenta e quatro anos de idade, agricultora, viúva, natural desta Província, e residia nesta mesma Freguesia; que era viúva de Joaquim Teixeira da Silva e que era filha legítima, e que deixou de declarar os nomes dos pais da falecida por não saber; que faleceu sem testamento; que deixou  dois filhos legítimos sendo João Teixeira, com idade de trinta e dois anos e Francisco Teixeira da Silva, com idade de vinte e oito anos; que a morte foi natural, ocasionada por febre; que se sepultou no Cemitério Particular de Boa Vista, deste Termo. E para constar lavrei este termo que comigo assinam Luiz do Rego Leite Gameleira, a rogo do declarante por não saber assinar. Eu, Antônio Chrispiniano de Miranda Henrique, escrivão de Paz que o escrevi.

 

Dona Silvana Maria da Apresentação era casada com Joaquim Teixeira da Silva (ou Joaquim José Teixeira, como aparece em alguns documentos), tiveram os filhos João Teixeira da Silva e Francisco Teixeira da Silva.

João Teixeira da Silva casou-se com Ana Generosa da Costa (ou Ana Augusta de Freitas, conforme aparece em alguns documentos), que era neta, pela parte materna, de Manoel Gomes da Costa e de Clara Maria de Jesus Paiva, patriarcas da família Gomes da Costa de Taipu.

Da descendência de Dona Silvana Maria da Apresentação temos, dentre outros, os trinetos, Professores Gilmar Santos da Silva (ex vereador Gil Santos) e Sidney da Silva Campos.

Voltando ao Cemitério da Boa Vista, que parece ter sido o mais antigo Cemitério de Taipu:

Encontrei nos livros de óbitos da Paróquia de Ceará Mirim, datados do início da década de 1860, assentos de óbitos com sepultamentos na Santa Cruz de Taipu, que é, ao que tudo indica, o Cemitério da Boa Vista. Nesse Cemitério, onde ainda existem as ruínas, existia um Cruzeiro, ou a Cruz de Taipu de Fora, citado por Câmara Cascudo, em seu livro, História da Cidade de Natal, a saber:

Do lugar Cruz do Taipu de Fora, ponto de confluência de duas estradas para a vila de São José pela Utinga e para a mesma Vila por Natal, seria uma pequena diferença de cinco léguas. E demonstra: “Da Cruz do Taipu de Fora ao engenho da Utinga são cinco léguas e desta à vila de São José, nove, total de treze léguas. Da mesma Cruz do Taipu de Fora à vila de Extremoz são cinco légua; de Extremos a Natal, três léguas e de Natal a S. José, nove léguas, total de dezessete”. (Cascudo, História da Cidade de Natal, 1980, pág 319)

Para contextualizar a citação de Cascudo, vale uma explicação: Em 1812 o Governador da Capitania do Ceará criou um serviço de Correios, onde o caminheiro saía daquela província, passava na terra de Santa Luzia (Mossoró), Assú, São José do Mipibu, indo para a Paraíba e daí para Pernambuco; em 22/11/1817, o governador da Capitania do Rio Grande do Norte, coronel José Ignacio Borges, respondendo ao Governador de Pernambuco, general Luiz do Rego Barros, detalha a proposta para se criar uma segunda rota dos Correios, passando por Natal.

Assim, a Santa Cruz existia desde de, pelo menos, 1817, enquanto que a Vila de Taipu se inicia a partir de 1839, após a passagem, em visita a Taipu do Meio, do Bispo de Pernambuco Dom João da Purificação Marques Perdigão.

É provável que o Cemitério da Boa Vista tenha a mesma idade da Cruz citada por Cascudo, portanto, anterior ao ano de 1817.

 

Arnaldo Eugenio de Andrade, 16 de março de 2022.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Memorial ao Vaqueiro João Maria




 

JOÃO MARIA foi o mais famoso vaqueiro de nossa região, embora ele desconhecesse a sua própria fama. Chegou à região no final do século XIX, vindo da Serra das Almas, em Crateús, no Ceará, fugindo da seca que assolou aqueles tempos, trazendo com ele os filhos Venceslau, Maria. Francisco e José Maria.

Quando uma cabeça (um boi ou uma vaca) se separava do rebanho e se embrenhava caatinga a dentro, já dada por perdida, recorria-se ao famoso Vaqueiro, que quase sempre conseguia a façanha de trazer o animal de volta para o pasto do seu dono. Atribuía-se às façanhas do humilde Vaqueiro, a força de suas orações.

Certa vez o Vaqueiro João Maria foi para mais uma missão, vindo das bandas do Inhandu, embrenhando em matas fechadas e hostis, chegou às proximidades do Riacho do Caratã, região situada entre as comunidades de Primeira lagoa, em Ceará Mirim, e da Barbará, em Taipu, um reduto de animais selvagens à época, hoje uma área de preservação ambiental, sob a guarda do IDEMA. Ali, exausto, com sede e fome, apeou-se do cavalo para um descanso, quando foi atacado por uma onça, que ceifou a sua vida.

Alcides Pinheiro de Souza casou-se com Joana Darc de Oliveira, no matrimônio os nubentes foram dispensados do parentesco por consanguinidade de 3º grau atingido ao 2º grau lateral, conforme o código canônico, ou seja: José Fernandes de Oliveira e Maria Joaquina da Conceição eram bisavós do nubente e avós da nubente. Alcides Pinheiro foi ser gerente do fazendeiro Vital Correia, sediado no lugar denominado Cavalcante, situado entre Ceará Mirim e Taipu, ao sul da atual BR-406. Alcides passou a conviver com o drama da caça a animal perdido. À sua esposa Darquinha cabia as promessas a João Maria. O sucesso nas caçadas de Alcides e sua equipe era sempre atribuído a interseção do Vaqueiro.

Os Irmãos Pinheiros (ou a Turma do Para), como são conhecidos os filhos de Alcides e Darquinha, mantiveram a devoção que os pais tinham ao Vaqueiro e, anualmente, sempre no mês de janeiro, vinham ao lugar, aonde já havia uma Cruz afixada, para suas devoções. A partir do ano de 2001, o Padre Francisco de Assis de Melo Barbosa, à época da Paróquia de Ceará Mirim, apoiado pelos Irmãos Pinheiro, passou a celebrar, aos dias de quatro de janeiro, a Missa ao Vaqueiro João Maria. A missão tornou-se tradição.

Aos 05 de janeiro de 2015, em Taipu, em plena Festa de Reis, os Irmãs Pinheiros propuseram que elaborássemos um projeto de um memorial ao Vaqueiro João Maria.  Depois de algumas discussões, estava consolidado o conceito de que o projeto tivesse forma de chapéu de coro. Assim foi projetado, e os Irmãos Pinheiro ergueram o Memorial. No final do mesmo ano, no local onde faleceu o Vaqueiro, foi instado o Memorial ao Vaqueiro João Maria, o qual foi inaugurado aos 04 de janeiro de 2016. Quando na instalação do memorial, as comunidades locais já tinham construído uma mureta no entorna da Cruz.

Em janeiro de 2000 fui assistir, pela primeira vez, a Missa do Vaqueiro. Fiquei surpreso com a quantidade de gente, vindo das comunidades dos arredores, de cidades vizinhas e, principalmente, de Natal. Havia muitos carros, ônibus, e cavalheiros montados em seus belíssimos cavalos. Houve o momento de cânticos e orações, que precederam à missa, a missa propriamente dita, que ao seu término abriu espaço para várias pessoas testemunhar graças alcançadas, a bênção dos animais e, por fim, uma equipe de teatro apresentou uma encenação da morte do Vaqueiro, tudo de forma solene e muito bem organizada, presidida pelo Cônego José Mário de Medeiros.

O Memorial do Vaqueiro. embora ainda seja desconhecido por muitos da região, recebe visitas de devotos e curiosos o ano inteiro: grupo de ciclistas, de vaqueiros, cavalgadas, pessoas a carro e a pé. Como já dito, o Memorial fica localizado próximo ao Riacho Caratã, que cruza o limite entre os municípios de Ceará Mirim e Taipu.

Em todas as referências em que li ou ouvi, sobre o Memorial, apontam que este se localiza no município de Ceará Mirim, no entanto, em conversa recente com o vereador de Taipu, Dedé Farias, o edil disse-me não ter dúvidas de que o Memorial está dentro dos limites do município de Taipu.

Então que evidenciemos. 

 

 

Sr. Valdomiro Alves da Rocha, o afilhado de João Café Filho

     Fonte: Paróquia de Nossa Senhora do Livramento de Taipu, livro de assento de batismos nº 13, assento nº 67, página 104. - Arquivo digit...