Fonte: Jornal "A Ordem", edição de 24/02/1948.
MOISES
ANDRADE era filho de filho de Joaquim Pequeno de Moraes e Francisca Eugenio de
Andrade, neto, pela parte materna, do Coronel Manoel Eugenio Pereira de Andrade
e Josefa Maria da Conceição; nasceu em Taipu aos 01/10/1906 e foi registrado
com o nome de Moyses Pequeno de Moraes. No entanto, no registro de casamento
está ratificado o nome para Moises Eugênio de Andrade; eram seus irmãos: Maria
Eugenia, Alfredo, Maria Anita, Maria Florinda, Alahide, Carmelita, Manoel e
Horlando; Moises Andrade consta na lista da professora Helena Botelho, primeira
professora, da turma masculina, do Grupo Escolar Joaquim Nabuco.
Moises
Andrade casou-se em Taipu, no civil aos 12/03/1932, no religioso, aos
17/04/1937, com sua prima Carmélia Paiva de Moraes, filha de Manoel Eugenio de
Andrade e Maria Amélia de Paiva; do casamento nasceram: Cornélio, Maria da Paz
e Tisian.
Moises
Andrade foi um dos maiores ativistas sócio cultural de Taipu à sua época; era
desportista, carnavalesco, poeta e compositor; segundo as anotações do diário
da Professora Francisca Avelino, foi Maestro da Banda de Música Municipal e
responsável pelo Taipu Futebol Clube, time que antecedeu o Estrela do Norte e o
Bonsucesso; deixou uma grande contribuição para a cultura de Taipu, poderia ter
deixando muito mais, não fosse a sua partida prematura.
Moises
Andrade era investigador de polícia; o jornal “A Ordem, edição de 24/02/1948,
sob o título “Roubou o comerciante”, divulgou a seguinte matéria:
Ontem à noite
verificou-se um furto de dinheiro na localidade de Itapassaroca, município de
Ceará-Mirim, no qual foi lesado o comerciante Luiz Teixeira, proprietário de um
“barracão” naquela localidade.
Comunicado o
ocorrido ao investigador Moises Eugenio de Andrade que passava por aquele
povoado este deu inicio as suas investigações tendo encontrado o larápio entre
os passageiros de um caminhão que procedia de Taipu.
O “amigo do
alheio”, de nome Jose Lopes da Silva e que é natural de Mossoró, foi conduzido
a esta capital, confessado ser o autor do furto que orça Cr$ 2.500,00.
Considerando
a baixa probabilidade de que Moises estivesse, por acaso, possando na
Itapassaroca logo após o furto, a dedução lógica é que, pelo prestígio no seu
trabalho de investigação, era requisitado por outras praças.
Na
Intentona Comunista, movimento organizado pelo Partido Comunista com intenção de
tirar Getúlio Vargas do poder, Natal chegou a ficar no domínio dos revolucionários,
que marcharam para o interior do Estado e, em Taipu, depuseram por um dia o
prefeito Rosendo Leite; logo o movimento foi derrotado e o pessoal da Guarda
Municipal de Natal, simpatizantes dos revolucionários, fugiram para o interior
do Estado.
Luiz
Raimundo Guedes era um dos membros da Guarda Municipal de Natal que, vendo o
movimento derrotado, fugiu para Taipu, à noite, pela linha do trem. Luiz era recém
casado com Maria Cecília de Andrade, a mais velha dos filhos sobreviventes de
Antonino Eugenio de Andrade e Cecília Maria de Andrade; Antonino era vizinho,
amigo e compadre de Adão Marcelo da Rocha que, de pronto, não deixou
desprotegido o genro de Antônio, “guardou-o” em uma de suas propriedades.
Moises
Andrade, o investigador, passou a procurar, na tentativa de levar à prisão,
tais foragidos, sendo Luiz Raimundo Guedes sua caça preferida; dentre as técnicas
de investigação de Moises havia a visita, aparentemente despretensiosa, que
fazia durante o dia às casas que supunha ser esconderijo; tinham as visitas
dois objetivos básicos: identificar a quantidade de moradores da referida casa
e fazer “amizade” com os cachorros da família, para que, à noite, os vigilantes
não estranhassem sua presença; voltava Moises no escuro da noite quando o único
barulho eram os irritantes cantos dos grilos e, de ouvido colado às portas e
janelas, rondava a casa na tentativa de descobrir se ali ressonava mais almas
do que as moradoras habituais da residência.
As
caçadas de Moises viraram obsessão, eram implacáveis; Adão Marcelo trocava o
seu “visitante” de lugar para despistar o caçador, até que, o cerco se
fechando, Luiz Raimundo foi levado para a cidade de Nova Cruz e de lá, junto
com a esposa, foi levado para a cidade de Recife, em Pernambuco.
Não
sei se Moises levou à cadeia algum dos seus procurados, mas o inusitado
aconteceu: certo dia Maises, que havia tomado uns aperitivos a mais, saiu à rua
gritando vivas ao Comunismo. Foi preso por subversão. Fora somente efeito do álcool,
logo foi solto, sua prisão não lhe rendeu maiores consequências do que a
ressaca moral.
Na
Década de 1990 visitei Luiz Raimundo e Maria Cecilia, essa minha tia pela parte
paterna, moravam no bairro do Alto José Bonifácio, em Recife. Ali desenvolveram-se
seus descendentes e casal ficou até o fim de suas vidas, faleceram com idades
já bem avançadas. Luiz Raimundo, a quem o chamava de tio, era seguidor de
Miguel Arraes e adorava contar suas experiências políticas.
Moises
Andrade, Infelizmente, teve sua vida ceifada prematuramente, aos 49 anos de idade,
no trágico acidente, entre as cidades de Mossoró e Assú, com o tombamento do caminhão
de romeiros de Taipu que retornava da cidade de Canindé, no Ceará, aos
14/12/1955.
Arnaldo Eugenio de Andrade - 21/08/2021