Imagens da relíquia encontrada no antigo Cemitério da Boa Vista, que resistiu às intempéries desses anos todos (imaginamos que a peça tenha mais de cem anos). A importância desse achado não se limita à beleza da peça, mas também, a referência a um Cruzeiro, cuja história já passa dos duzentos anos, e que traz fortes revelações da história da Vila de Taipu.
O Cruzeiro, ou a Cruz do Taipu de Fora, é citado por Câmara Cascudo, em seu livro, História da Cidade de Natal, a saber:
Do lugar Cruz do Taipu de Fora, ponto de confluência de duas estradas para a vila de São José pela Utinga e para a mesma Vila por Natal, seria uma pequena diferença de cinco léguas. E demonstra: “Da Cruz do Taipu de Fora ao engenho da Utinga são cinco léguas e desta à vila de São José, nove, total de treze léguas. Da mesma Cruz do Taipu de Fora à vila de Extremoz são cinco légua; de Extremoz a Natal, três léguas e de Natal a S. José, nove léguas, total de dezessete”. (Cascudo, História da Cidade de Natal, 1980, pág 319)
Para contextualizar a citação de Cascudo, vale uma explicação: Em 1812 o Governador da Capitania do Ceará criou um serviço de Correios, onde o caminheiro saía daquela província, passava na terra de Santa Luzia (Mossoró), Assú, São José do Mipibu, indo para a Paraíba e daí para Pernambuco; em 22/11/1817, o governador da Capitania do Rio Grande do Norte, coronel José Ignacio Borges, respondendo ao Governador de Pernambuco, general Luiz do Rego Barros, detalha a proposta para se criar uma segunda rota dos Correios, passando por Natal.
Importante algumas observações: em 1817 o serviço de correios ainda não passava por Natal, o que demonstra que a Cidade ainda era pequena; já existia um Cruzeiro em Taipu de Fora, o que sugere já haver certa densidade populacional na região; já havia em Taipu de Fora confluências de estradas, indícios de que o lugar era rota de viajantes.
Tínhamos, à época, três lugares com nomes de Taipu: Taipu Grande, região do Poço Branco velho; Taipu do Meio, atual sede do município; Taipu de Fora (ou Taipu de Baixo), onde havia o Cruzeiro.
Pelas evidências, parece que Taipu de Fora, onde se desenvolveu a Boa Vista, foi a primeira região do município a iniciar certo desenvolvimento urbano, visto que, conforme as citações, já havia um Cruzeiro no lugar, anterior ao ano de 1817, enquanto que no Taipu do Meio, o núcleo urbano se desenvolveu a partir de 1839, com passagem do Bispo Dom João da Purificação em visita ao lugar, e os posteriores movimentos em prol da construção da Capela à Nossa Senhora do Livramento, já Poço Branco velho, no Taipu Grande, teve desenvolvimento posterior à sede do município.
Prioridade agora são os cuidados com a preservação do Cruzeiro. Já estão sendo tomadas algumas providências, tratamento anti cupim, limpeza da peça e hidratação da madeira, por exemplos. Depois, leva-lo para um destino definitivo, aberto ao público.
Buscas por revelações a partir do Cruzeiro devem prosseguir: Qual o significado do alicate, do martelo e a revelação da Virgem de La Salette? Há relação da estrela, esculpida na peça, com o Judaísmo? Qual a idade do Cruzeiro? Essa peça é o Cruzeiro original? O Cemitério da Boa Vista foi o primeiro de Taipu?
Quem sabe encontraremos algumas respostas!
Nota:
Na citação de Cascudo, há um equívoco com relação à soma das distâncias - Da Cruz do Taipu de Fora ao engenho da Utinga são cinco léguas e desta à vila de São José, nove, total de treze léguas – Deveria totalizar quatorze, no entanto, por fidelidade à fonte, foi transcrita como lá está.