Da passagem do Bispo Dom João da Purificação Marques Perdigão Purificação por Taipu, de 8 a 10 de novembro de 1839.
Dia 7. Sai de Boa Água pelas 5 horas da manhã, passando a calma na Ladeira Grande, em casa de um homem mui probo e religioso, a rogo do qual resolvi ali pernoitar para crismar quase 100 pessoas, assistindo à prática maior número.
Dia 8. Sai da Ladeira Grande pelas 5 horas da manhã, e cheguei a Taipú do Meio, onde fui hospedado e rogado para ali permanecer até domingo, certificado de que neste lugar deve concorrer considerável número de povo para receber o sacramento da confirmação, e satisfeito de encontrar nas pessoas, que me receberam, muita probidade e religião. De noite crismei quase 100 pessoas, assistindo à prática maior número de concorrentes. Tendo crismado de noite, porque era mister anuir aos rogos de muitas pessoas, que por pobreza não podiam comparecer de dia, constando-me que muitas pessoas do sexo feminino de maior e menor idade recebiam este sacramento, comportando vestidos emprestados, tendo eu igualmente em visita a distância de 10 a 12 léguas, donde concorriam muitos crismandos. Tendo sido um pouco extenso nas minhas práticas, fazendo ver aos povos, como não gozarei mais a ventura de lhes falar em nome e por amor de Jesus Cristo, em cumprimento do meu primeiro dever.
Dia 9. Despachei 2 requerimentos do padre Gama, recebidos no mesmo dia, e atendendo à longitude de muitas pessoas, que estavam chegando, e como era mister que todos os crismandos recebessem a imposição de mãos, fui obrigado a principiar a ação do santo crisma pelas 8 horas da noite, administrando este sacramento a mais de 1.000 pessoas, terminando depois da meio noite, antes da qual supliquei a comida de uns ovos fritos, por não poder fazer a prática sem alguma refeição em consequência de ter jantado com muita parcimônia. Esta prática finalizou pela uma hora, assistindo muito maior número que os crismandos. Nesta noite veio ter comigo o reverendo Fidelis para me cumprimentar, tendo idade de 70 anos.
Dia 10. Celebrei pelas 8 horas, assistindo considerável número de povo, e depois crismei quase 30 pessoas. Dizendo missa o padre José, algum tempo depois, também concorreram muitas pessoas, no fim da qual casou uns noivos com licença minha, e dispensados os banhos mui atendíveis motivos. Finalmente tornei a crismar 30 ou 40 pessoas, que moravam em grande distância. De noite principiei a crismar particularmente pelas 8 horas algumas pessoas, que vieram de longe, persuadindo-me que não compareciam outras pessoas. Como porem até às 9 chegassem por vezes várias famílias, crismei mais de 200 pessoas, impondo-lhes 4 vezes as mãos.
Dia 11. Sai de Taipú pelas 6 horas da manhã acompanhado de alguns cavaleiros, e descansei no sítio Capela, em casa de Teixeira, homem cego, de muita probidade e religião, que me foi convidar na distância de 3 léguas, para administrar o sacramento da confirmação aos que concorressem para este fim.
Fonte: Francisco Fernandes Marinho – O Rio Grande do Norte sob o olhar dos Bispos de Olinda.