Dona Raimunda Isaura da Rocha, que este ano completa 100anos de idade, não abre mão do seu dever cívico, apesar da idade; Dona Raimunda é viúva de Pedro Carlos da Rocha (Pedro Patola) - Fonte: Acervo pessoal de Pedro Carlos, o autor do texto
UMA LIÇÃO DE VIDA: COMO MEU BISAVÔ (PAI QUINCA) E MINHA AVÓ (RAIMUNDA ISAURA) MATERNOS APRENDERAM A LER
Texto de Pedro Carlos
Na década de 1920, Joaquim Inácio da Silva, conhecido também como Quinca Cavaco ou Pai Quinca, morava em Gameleira/Taipu e trabalhava em Ceará-Mirim como vaqueiro de Raimundo Pacheco. Naquela época a casa de Raimundo Pacheco era onde hoje existe o Palácio dos Esportes, e um vizinho seu era um certo Capitão Baltazar, homem abastado.
Pois bem. Em um certo dia, Capitão Baltazar perguntou a Quinca Cavaco se ele gostaria de aprender a ler, ao que Quinca respondeu que sim. Sendo assim, Capitão Baltazar deu-lhe uma "Carta de ABC" e combinou com ele que lhe daria uma lição toda semana, e assim fizeram. Todos os dias Quinca Cavaco ia a cavalo de Gameleira para Ceará-Mirim e vice-versa, levando sua "Carta de ABC" debaixo do seu chapéu de palha. Ele estudava em casa, todos os dias, a lição da semana, e no sábado levava a lição para Capitão Baltazar fazer a avaliação, dar uma nova aula e passar-lhe uma nova lição. Essa metodologia sistemática se repetiu por muitos meses até que Quinca Cavaco aprendeu a ler e a escrever.
Sua filha, Raimunda Isaura, lembra-se muito bem de ver seu pai estudando a "Carta de ABC" e conta com muito orgulho que ele era a única pessoa que sabia ler e escrever em Gameleira, e que ele tinha uma letra de Doutor. Ela relata que seu pai, com muita frequência, lia e escrevia cartas para as pessoas das redondezas de Gameleira que tinham familiares em outros Estados: "a casa vivia cheia de gente". Ela lembra que seu pai dizia sempre que "não ia criar os filhos sem saber ler nem assinar o nome"...e assim fez.
No caso da minha avó Raimunda Isaura da Rocha, seu pai sempre lhe incentivou a estudar. Ela conta que a esposa de Raimundo Pacheco era-lhe muito simpática e que sugeriu a seu pai, Pai Quinca, que ela fosse morar em sua casa, que ela assumiria a responsabilidade por sua educação. Quinca gostou da proposta e foi combinar com a sua esposa, Dona Dina, ou Mãe Dina. Ramunda Isaura ficou muito feliz, mas receosa da resposta de sua mãe, pois ela era menos flexível do que seu pai.
A resposta de Dona Dina foi um taxativo não: " eu não criei filha para viver na casa dos outros". Porém, isso não impediu Quinca Cavaco e Dona Dina de investirem na educação de seus filhos.
Raimunda Isaura conta que, morando então em Marizeira/Taipu ia todos os dias a pé, junta com outros colegas, ter aulas na casa de duas irmãs professoras, Dona Lecy e Dona Letícia, na Fazenda Mar Coalhado, de Manoel Juvêncio, nas proximidades de Jacoca. Seu pai pagava pelas aulas. Ela conta que nessas idas e vindas das aulas "levei muita carreira de boi brabo".
A então Raimunda Isaura da Silva estudou até a "Terceira Série", o que à época era muito satisfatório, mas sempre diz que se tivesse tido mais chance teria se formado, pois sempre foi uma aluna muito aplicada.
OBS.: Aos 99 anos de idade, Raimunda Isaura da Rocha lê e escreve muito bem
Ler e escrever é um hábito ou um exercício que se prática todos os dias ou quase todos os dias.
ResponderExcluirUma história fantásticas!
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