O prédio que leva o nome de “Palácio Vereador Sebastião Cruz”, se tornou sede da Câmara Municipal de Taipu a partir do ano de 2001. Desde aonde alcança minha memória, o prédio era, simplesmente, “O Grêmio”, que bem podia ser chamado de “A Casa da Cultura Taipuense”, existiu até a década de 1980. O Grêmio perdeu funcionalidade com a construção do Centro Pastoral, inaugurado a 01/05/1986. Esse, com melhor estrutura, começou receber os eventos que outrora acontecia no Grêmio.
O Grêmio foi palco de reuniões comunitárias, show de trapézio, peças teatrais, filmes, bailes... Lembro, por exemplo, de uma peça teatral que participei, a qual chamava-se “O Castigo de um filho”, apresentada em maio de 1982, em homenagem às mães.
No ano de 1974, quando televisão era raridade em Taipu, a cidade não contava com 10 aparelhos de TV, foi instalado um televisor no Grêmio, para se assistir aos jogos da Copa Mundo. Era um esforço enorme do responsável pelo equipamento tentando sintoniza-lo manualmente, numa época em que nem se imaginava o tal controle remoto. Apesar de tudo, grande decepção não foi a má qualidade da transmissão, mas, a perca do tetracampeonato da Seleção Canarinho. E, para registro, o responsável pela televisão era o jovem Ariosvaldo Bandeira Junior, hoje prefeito de Taipu.
O espaço é muito mais antigo do que a minha memória alcança. O Jornal “A REPÚBLICA”, na edição de 20/01/1903, pag. 4, anunciava a chegada à cidade de lideranças políticas para a grande festa de inaugurações de obras, pelo Intendente, o Coronel Manoel Eugenio, destacando-se dentre tais obras, a inauguração do mercado público, justamente onde posteriormente viria a ser “O Grêmio”.
O local, porém, já tinha utilidades antes do mercado público do Coronel Manoel Eugenio. O livro de Foros do Patrimônio de Nossa Senha de Livramento, Paroquia de Taipu, faz referência ao lugar como “casa de cortar carne verde”:
“Fulano de Tal (nome ilegível), representado por João Soares da Silva, afora, perpetuamente, no patrimônio de Nossa Senhora do Livramento de Taipú, um terreno, com casa de tijolo de vinte cinco e meio palmos de frente tendo direito a cento e cincoente palmos de fundo se houver, na rua que tem em frente a Igreja pelo lado do norte, junto a uma casa de cortar carne verde, sujeitando-se a pagar anualmente, para o mesmo patrimônio, no mês de dezembro independente de ser procurado, cincoente réis por palmo que foi o foro de 1:245 mil duzentos e quarenta e cinco reis por ano sob pena de [...] comunicado se não pagar em dois anos consecutivos, não podendo vender ou alienar sem consentimento do senhorio que tem o direito...” (Livro de Foros do Patrimônio de Nossa senhora do Livramento, pág., 36v – grifo nosso)
O espaço, que era do Patrimônio de Nossa Senhora do Livramento, ao que tudo indica, tornou-se de domínio público, visto não haver aforamento desse lugar no referido livro de aforamentos da Paroquia.
É provável que a origem dessa “casa de cortar carne verde”, date de antes de 1877. Manoel Ferreira Nobre, em seu livro “Breve Notícia Sôbre a Província do Rio Grande do Norte”, cujo primeira edição é de 1877, falando sobre Ceará Mirim, faz a seguinte citação:
Taipu, (285) cinco léguas ao poente da vila, edificada irregularmente: pouco trato comercial, uma pequena feira, e exporta algodão e courama (Nobre, pag. 190, 1971 – grifo nosso).
Tudo leva a crer que o local do antigo Grêmio, serviu inicialmente à feira livre, citada por Nobre, e é hoje a Câmara Municipal, sede do Poder Legislativo. Tomara que a hoje “Casa do Povo” uma hora legisle sobre a regularização do nosso espaço urbano, que teima nas construções irregulares, conforme nos chamou à atenção Manoel Ferreira Nobre, já em 1877, portanto, a 144 anos, sem que o poder público tenha intervido.
Fontes:
Nobre, Manoel Ferreira. Breve Notícia Sôbre a Província do Rio Grande do Norte, 2ª Edição, 1971.
Livro Tombo nº1 da Paroquia de Nossa Senhora do Livramento.
Livro de Foros do Patrimônio de Nossa Senhora do Livramento de Taipu.
Jornal “A REPÚBLICA, edição de 20/01/1903, pag. 4.
Arnaldo Eugenio, 10/02/2021.
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